domingo, 24 de janeiro de 2016

Glória III

autor: Fábio Carvalho


foto: detalhe de original de Marconi Andrade [fonte >>]

Ontem no grupo (facebook) S.O.S. Patrimônio, Marconi Andrade publicou uma foto de sua autoria de azulejos usados para ornar uma pia em um palacete na Glória. O estado atual deste palacete é de tal forma deplorável e deprimente, que optei por não mostrá-lo na postagem. Logo a questão levantada era a origem dos mesmo, e como sempre vemos acontecer quando se tratam de azulejos antigos, a primeira coisa que se pensa é que são portugueses.
Entretanto, quem frequenta este blog sabe que no Rio de Janeiro temos (ao menos atualmente) uma quantidade muito reduzida de azulejos antigos de fachada portugueses, contra uma maioria esmagadora de azulejos holandeses, seguidos pelos franceses.

Cercadura e azulejo de padrão isolados da foto original:




E mais uma vez, me parece certo que novamente seja um caso de azulejos holandeses. Vamos aos catálogos:

Fábrica Ravesteyn - catálogo de 1890:

cortesia de Peter Sprangers, Holanda.
cortesia de Peter Sprangers, Holanda.


Fábrica Schillemans - catálogo de 1888:

cortesia de Peter Sprangers, Holanda.

O meu caro colaborador holandês Peter Sprangers já em outra ocasião me afirmou ter documentação que comprova exportação de azulejos para o Rio de Janeiro pelas fábricas Ravesteyn e Schillemans, cujos catálogos vimos acima.


Museu Holandês do Azulejo:


Gekleurde Groene Blaadjes ("folhas verdes coloridas") - me parece mais a descrição do desenho do que o nome do padrão.


Lelie in Palmetrozet ("Lírio em Roseta de Acantos"). Este sim me parece um nome de padrão.

Esta segunda entrada no catálogo me parece muito mais próxima dos azulejos em questão do que a anterior. Notem a sombra nas folhas e o detalhe escuro nas pétalas da flor central.

Neste catálogo encontrei também esta que parece ser uma variação cromática e de técnica da cercadura em questão. Slingerdecor ("Decoração de Festão"):


O Solar do Jambeiro, em Niterói (RJ) possui uma variação cromática desta cercadura. Cabe lembrar que os azulejos neste solar são também em quase sua totalidade holandeses:


Saiba mais sobre o Solar do Janeiro nesta postagem >> e também nesta segunda postagem >>

Por fim, encontrei até mesmo um possível "avô" para o motivo da cercadura, com o nome de Tulp en Roosrand ("Borda de Rosa e Tulipa"), no caderno de modelos e padrões da fábrica Piet Hein (1851-1866), de Delfshaven - Rotterdam, que pertenceu a Frederick James Kleijn:


7 comentários:

  1. Caro Fábio
    Ontem, quando vi este post pensei "Hum.Não me são familiares". Fiz uma pequena busca pela azulejaria portuguesa e nada encontrei. A sua pesquisa leva-nos a concluir que haverá fortes possibilidades de serem holandeses.
    bjs

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    1. Olá Maria Paula!
      Obrigado pela visita e por parar um tempo para comentar. Eu não tenho mais dúvidas não. Só não afirmo categoricamente que SÃO holandeses pois nunca é bom ser tão definitivo assim quando não se tem provas definitivas, ainda mais num assunto tão cheios de lacunas.
      bjos!

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  2. Bem, contra factos não há argumentos e de facto fundamentaste muito bem a tua opinião.

    Um abraço

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    1. Olá Luis,
      Muito obrigado!
      Me dá prazer tentar desvendar estes mistérios.
      abraços

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  3. Olá! Em Porto Alegre temos uma fachada com este padrão, inclusive com o detalhe do festão.

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    1. Olá Silvana!
      Obrigado! Já vi fotos desta casa de Porto Alegre, é muito bonita com a fachada toda revestida nesse vivo padrão.
      abraços!

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